terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carta à você III

Sabe o que é engraçado? Se fosse outra pessoa sentiria raiva da sua realidade e ciúmes por não estar ao seu lado. Ciúmes mesmo, não de amigo - ou o seu, que só você entende. E no entanto eu não me sinto essa pessoa. Ao contrário do que se pensa, eu sinto saudades de momentos, da sua presença, do seu cheiro. Mas aí eu te pergunto: como eu posso sentir saudades de algo que nunca foi meu? Por que eu me sinto AINDA tão vinculada às suas lembranças? Tudo o que há de bom, volta e repassa e repassa...
Nem sei se você lembra disso tudo. Talvez por pelo cotidiano, as recordações foram se esvaindo da sua rotina - se é que elas existiram um dia - assim como aconteceu comigo um dia há um tempo. Tempo em que, pelo que lembro, conversávamos sobre mim e sobre o mesmo assunto - engraçado de novo. Tudo girava em torno da minha realidade utópica e idealizada. Tudo girava em torno do seu incômodo e da repetição de uma frase que hoje retorna ao autor de forma direta. É difícil estar com alguém fora do seu ciclo social? É difícil incluir sua companhia nos seus eventos sociais? Não deve ser já que seu ciclo social se virou para outros lados. Acertei?
O bom de lembrar desses detalhes é que depois eles pairam pelo subconsciente do meu eu e lá fica até se tornar ínfimo, como nos encontramos agora.
Talvez você diga à ela as mesmas baboseiras que falava pra mim e ela acredite porque você costuma ser sincero. Talvez você relate elogios tão bonitos que quem olhe de fora acredite. Talvez já tenha encontrado a pessoa certa pra estar - palavras suas - e pare de atrair coisas velhas pro seu lado. Talvez seja aí que você encontre conforto e sorrisos.
Espero que você nem tome conhecimento disso. E o que importaria se tomasse? Você já tem um norte - ou vários. Eu também.

domingo, 25 de setembro de 2011

Carta à você II

Desligou o rádio em mais uma música que relembre aqueles tempos. Chega de romances baratos e crenças medíocres, duvido que ao contrário tenha sido assim. O exercício psicológico diário começa assim que o sol se põe e a intensidade diminui a cada dia. Melhor assim. Pela primeira vez sente medo de encontrar em um lugar comum - ou incomum. Ao mesmo tempo que o coração clama por uma surpresa, a razão treme de medo por encontrar - não sei como reagir...
A confusão é ínfima mas persistente. Uma confusão diferente, estranha. São dois lados: em uma face o filos, em outra o eros. Por isso o medo? Qual lado vai se manifestar?
Vontade estranha de ouvir seus causos, suas histórias e de perceber, mais uma vez, pelo canto dos olhos, seu olhar de aprovação, de graça, de carinho. Sem maldades, sem apelos.
Talvez estivesse escrevendo a últimas frases em direção ao passado. Não há porque remexer em fotos preto e branco, a poeira já tomou conta, as jóias enferrujaram.
Tudo novo, pra frente. Ao contrário é diferente, a felicidade domina e nem há lembranças do lado contrário.
Mas desliga-se o rádio em todas as músicas que relembre aqueles tempo.
Se quer saber, ainda te espero.