sexta-feira, 29 de abril de 2011

Só hoje...

Dessa vez foi diferente desde o início, no meio e o fim foi o oposto da outra vez. Estávamos diferentes mas você pareceu mais diferente pra mim. Sua aparência, seu modo brincalhão - algo que você expressou em um piscar de olhos -, seu sorriso alto. Até a sua blusa que eu não gostava te pareceu bonita agora nas suas costas que pareceram malhada e diferentes - e você sabe que eu percebi. Não precisei ficar fugindo ou te procurando só pra você saber que eu estava ali. Mas saber que você estava ali me lembrou momentos bons de sentir e de recordar. Éramos nós, com o sorriso no canto da boca, o coração batendo mais forte, as palavras medidas. Palavras medidas até hoje.
O mais engraçado é que tudo aconteceu em uma fração de minutos e desencadeou algo que só me permiti sentir agora, depois de algum tempo. E com sinceridade, sinto sua falta ainda hoje, mas de um jeito mais maduro, com moderação. Da sua companhia, do seu abraço - relembrado hoje. A certeza da sua presença ao meu lado era agradável demais, me fazia um bem enorme. Da sua conversa pausada e lenta, que me acalmava. Não sei se posso te considerar o garoto da minha vida - como você disse. Mas com certeza, eu vou demorar à encontrar um colo tão acolhedor e seguro. Calma, tudo passa e isso também já está passando. Sei das nossas limitações e sei também que caso elas não tivessem surgido, evitaríamos muitos contratempos - aliás, imaginei semana passada como seria se fosse diferente.
O vento vai continuar a dizer, lento, o que virá. Deixa ele falar por nós.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda
Mas invento palavras
Que traduzem a ternuar mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verdo teadorar
Intransitivo: Teadoro, Teodora

Manuel Bandeira

terça-feira, 12 de abril de 2011

Transparente

Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Sou isso hoje. Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina. E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar. Tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdôo logo. Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre. Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil e choro também. Uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses, todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas, bebidas, poses, frases de efeito, maquiagem e risadas altas. Foi exatamente assim que você me conheceu e que, talvez, você veja hoje. Poucas pessoas me viram tão transparente como você ou souberam do meu medo de andar em lugares escuros, de amar demais, de se perder um pouco de tanto amar, de não ser boa o suficiente. E de que adianta todo esse conhecimento se você não sabe usá-lo a seu favor?

domingo, 10 de abril de 2011

"Nem desistir nem tentar, agora tanto faz..."

Mesmo prevendo todos seus passos, esse eu esqueci de prever. Se isso fosse bom por si só, tudo estaria muito bem como estava. Entretanto, a falta de prevenção para este passo me levou a vulnerabilidade da doce e temível realidade dos fatos. Eis o motivo pelo qual senti o medo maduro. Eis por que fugi por minutos. Pensando bem, seria melhor ter fugido de tudo. Eu estava seguindo minha vida sem problemas algum, com total equilíbrio. E você aparece, pra bagunçar tudo.
Entenda. Não reclamo porque não deu em nada mais uma vez - isso eu previa. Você não passa a segurança de um relacionamento concreto, você prefere procurar tal segurança em outros lugares e eu já estou acostumada com isso. Cansei de me perguntar porque não eu, que sempre estive ao seu lado; quem você se apóia quando precisa, quem você chama pra obter qualquer tipo de conforto momentâneo. Cansei. E cansei agora também. Cansei de depositar minhas ínfimas esperanças em alguém tão covarde como você, que se esquiva da realidade porque, sei lá, tem medo de enfrentar alguns sentimentos que talvez existam. O que eu duvido, você não é movido por sentimentos. Não em relação a mim. Chega desse papo de que somos regidos pela atração, que mexemos um com o outro e que o desejo é mais forte. Sejamos realistas dessa vez, que foi muito diferente das outras. Agora o peso não é esse, eu não sinto o mesmo de antes, mas você continua o mesmo de sempre. O mesmo infantil, tradicional, patético. Cresça, junto com o que eu cresci. Faça algo antes que eu canse de vez de ser, até mesmo, seu "porto seguro". E dessa vez, eu sou capaz de fazer isso sem medo do futuro. Não duvide.
Pois bem, deposito o que há de raiva em mim aqui, nessas letras, pra não depositar no mundo, pra pensar melhor antes de descontar tudo e todo meu cansaço em você.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dialética

Baseado em poucos sentimentos que se prezem e ambientado em um lugar já antes explorado, mais uma vez foram rendidos pelo destino. Ou sendo mais realista, pela velha atração e casualidade de um encontro marcado. O que não era segredo pra ninguém: o conteúdo das mensagens instigavam e demonstravam o que viria pela frente. Bastou uma boa conversa fútil e algumas insinuações para que tudo ficasse claro e as circunstâncias levassem a tal rendição. Nenhuma novidade exuberante. Considere uma reconstrução daquilo que já se sabia há algum tempo e que, passados alguns contratempos e acontecimentos da vida, os jeitos e sabores e cheiros foram relembrados. E depois parecia que tudo estava como antes. Os pensamentos que assolavam os passos e agora uma conversa normal, eram inúmeros e distintos. Ou iguais, por incrível que pareça. A não ser por pequenas parcelas de sensibilidade de um e por vezes de outro, acredito que nos minutos que sucederam o esperado nenhum coração batia mais forte ou nenhuma fonte mais precisa de esperança aflorava nos dois. Também não precisa, os destinos já são cruzados mas o laço mágico só funciona algumas vezes. E talvez, o antigo encanto não desabroche tanto assim porque o pouco que resta dele está guardado a sete chaves. Melhor assim, mais cômodo pra ambos. Dá pra administrar sem muitas inflações e juros uma relação que já passou da amizade e que está à frente da fraternidade. É fácil ser um do outro e não ter qualquer sentimento de posse ao mesmo tempo, tornando-se algo fascinante e, como sempre, irônico. Quem não gosta de ironias? Afinal, você é imprevisivelmente previsível. Eu sou uma metamorfose ambulante.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Além do que se vê

"A chuva, a noite, o silêncio, a conversa, os risos, os indícios, eu, você. Passava pela minha cabeça se eu ainda era capaz de te desorientar. E pra que tantos rodeios se a resposta vem claramente: você me envolvendo com um carinho igualmente diferente, capaz de enlouquecer qualquer coração amargurado. E você consegue, incrivelmente, você sabe onde chegar pra não me deixar sair correndo, fugindo. Sempre fugindo, daquilo que já senti, daquilo que tenho medo de sentir, daquilo que acumulei ao longo do tempo. Fugindo por comodismo, por saber que longe não sofrerei, por facilidade. Te tranquei por fora, me tranquei aqui dentro e ainda não consegui destrancar. Você é tão tradicional quanto intenso. E é capaz de alternar para o calmo algum tempo depois. Seus olhos são exatamente iguais quando, achando que eu não vejo, me olham com desejo. Suas atitudes parecem ser calculadas e você sabe como me seduzir. Sabemos o ponto que dá arrepio, o carinho que atiça. Não pretendemos nada, mas somos capazes de presumir tudo. O que não quer dizer absolutamente nada, já que podemos inferir o fim disso tudo. Afinal, de que adianta estar explícita nossa afinidade se há a sua indecisão característica? Aí eu me pergunto até onde vamos com isso. Até quando vou precisar ser fria e racional demais pra me proteger. Meus sentimentos foram ínfimos, não é mentira. Mas eles ainda infelizmente existem e não sei até que ponto eles continuarão ínfimos. Agora deixa estar, sem racionalidades. Porque o nosso clichê, que jamais será referência de nenhum outro, tem um quê de ironia que me faz querer você ainda mais, mesmo sabendo o que me espera na próxima esquina. E vamos, cegamente, ganhar ou perder sem que ninguém precise saber."