segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Conta um segredo.

Mil quatrocentas e quarenta horas e posso dizer que muita coisa mudou por aqui.
Há um novo quarto, melhor arrumado e mais escuro. Não, escuridão não é sinônimo de tristeza. Talvez até seja, mas o escuro aqui é um lugar particular, criado para refúgios necessários em determinadas situações. Muita coisa mudou por aqui. Tudo organizado de outra forma, com novos conceitos, novas formas de encarar as situações. Como se em meio a intensos vendavais e terremotos a vontade de reestruturar as coisas fosse maior e o ponto de partida fosse a estranha falta de lágrimas, marco de que alguma coisa está mudado por aqui.
O coração é um bicho muito estranho de se entender e eu sempre tive muitos problemas com ele por querer ouvi-lo em demasia. Pois bem, resolvi deixá-lo quieto, nesse canto escuro do quarto. Batendo num ritmo próprio, decidiu por si que o mundo é pequeno pros seus desejos e que a vontade de ver, sentir, experimentar e viver é maior do que suas cicatrizes e mágoas - que ainda rondam por ai. Um conjunto de parar de sofrer demais porque a vida passa - e rápido - com um mundo todo pela frente e ferramentas altamente particulares para explorá-lo. Qualquer situação é vivida intensamente desde então por ele. Muita coisa mudou por aqui, que se limitava a experimentar o já conhecido por insegurança. Bendito seja o ritmo próprio que o coração resolveu bater. Próprio, particular, único, característico. Egoísta, guerreiro, perseverante, altruísta, decidido. A felicidade, que antes estava em olhar pro outro antes, se tornou foco principal da vida e a tinta que pintou as paredes do quarto. Primeiro eu, depois eu e em seguida os que habitam por aqui. Deus que me perdoe, só quero ser feliz e pra isso preciso olhar pra essa nova organização e dizer que tem meu jeito, meus desejos. Minha cara, meus objetivos. Depois da bagunça, até o canto escuro é assim.
As vezes as coisas acontecem e muitos dizem "por acaso". Não consigo acreditar em acaso quando tudo acontece no momento em que tem que acontecer, com os personagens que tem que participar, com as bagunças que tem que acontecer. Sair de um casulo e dar as primeiras batidas nas asas é um sinal muito bom de que as situações servem para muita coisa, as pessoas que talvez não sabem aproveitá-las como se deve e talvez, por isso, falam de "acaso". Sei lá, as coisas tem que acontecer e mesmo que não se entenda porque, lá estão elas, prontas para ensinar algo, desarrumar uma pilha de livros aqui, soprar um vento mais forte ali, construir um canto escuro acolá, colocar o passado guardado numa caixa de fotos e cartas, preenchido de lembranças e sorrisos e dores.
Nessa saída de casulo descobri um novo cômodo, mais forte, mais indiferente, mais decidido. Com mais amigos, com mais situações de limite, com menos paciência, mais prático, mais determinado. Menos meloso, mais orgulhoso, mais engenhoso. Com novas cores, tons de vermelho desconhecidos que, com algumas manchas, formam novas estampas que caracterizam e dão nome ao cômodo. Sair do casulo tem lá seus benefícios.
Muita coisa mudou por aqui. Optei por assumir meus anos de vida e não desejar tê-los mais pra frente. Optei por um coração que bate mais lento, optei por caminhar com meus pés. Opto por ouvir meus gostos, opto por ler de novo o mesmo livro, por ser nostálgica, romântica, perdida, sonhadora, pé no chão, menina. Opto por sair o dia inteiro, por buscar meus sonhos sozinha, por me acostumar com as buscas em companhia da fé. Opto por ser mais mulher, mais feminina, mais madura. Opto por ser feliz, por me arrumar mais, pela postura, pelo sorriso no rosto independente da situação. Opto pela dança esquisita, pela liberdade de expressão, pela bebida mesmo não sabendo beber. Pela crítica, pela opinião, pela psicologia. Opto pela liberdade que experimento todos os dias, pronta para bater minhas novas asas e descobrir novas estampas pro meu quarto, escuro, mas que agora tem nova e particular organização. Opto por ser coroada rainha de mim.