terça-feira, 12 de julho de 2011

Inverno de julho.

A sola dos sapatos estavam gastas: andara por muito tempo e não sabia ao certo quanto tempo foi. Estava cansada, com a maquiagem borrada; ao fundo, o barulho das ondas abafavam os soluços repentinos. Ainda bem que as pessoas não estão aqui, elas não entenderiam a voz de um coração atordoado.
Estava em um típico inverno de julho. Como sempre, as temperaturas eram baixas e a cidade tinha uma coloração acinzentada. O relógio previa uma noite fria, jamais antes vista, e o sol ainda nem havia se posto. Normalmente ficaria em casa, aquecendo-se. Mas a frieza da realidade estava presente desde a manhã e agora, sentir a brisa da tarde no rosto era o que aquecia. Quanta metáfora, pensava. As baixas temperaturas, o cinza da cidade, o deserto em plena luz do dia, o silêncio totalitário... E a mesma resposta que ecoava em sua cabeça.
Não pode conter aquelas que aliviavam sua dor. O vento fez o trabalho de secá-las, mas amargura não evaporava, como água e sal. Pensar que já vira tudo isso antes não melhorava em nada, como se vingança de ações passadas justificassem tais atitudes. Antes ajudasse. A tristeza do adeus não dado era maior e por isso elas caiam de seu rosto.
Então cortaria laços, projetaria sua vida pra frente.
Isolada junto aos prédios de luxo, o cachecol era levado pelo vento e os sussurros das promessas feitas a si auxiliavam na organização dos pensamentos. Mais um ano em que nesse período o destino nos encontra e resolve agir contrariamente; cenas já vistas antes.
Antes de tocar sua vida, contornaria tudo o que fazia lembrar do passado. Desde de pequenos detalhes até acontecimentos maiores, que a mente custava em lembrar - infelizmente tinha uma memória excelente pra isso. As formas começaram a surgir e eram táticas diferentes. Tinha que dar certo, estaria colocando um ponto final naquilo que tentou pontuar há alguns meses e que não dera certo por ser fraca, sensível, tola.
Quando se deu conta, o sol havia se posto e as primeiras buzinas indicavam que o trânsito se formara. Olhou para o relógio e, mesmo amargurada porém forte, seguiu para a multidão.

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